segunda-feira, 26 de maio de 2014

Feliz dia 25 de maio

Eu tinha uns 8 ou 9 anos e o meu pai comprou, junto com um novo aparelho de vídeo cassete, três fitas VHS contendo a trilogia original de Star Wars. Elas eram verdes, e começavam com uma entrevista chatíssima do Leonard Maltin com o George Lucas. Foi com essas fitas que eu genuinamente me surpreendi quando descobri quem era o pai de Luke. Quando eu tinha 13 anos, ganhei 50 reais de presente de aniversário, então imediatamente fui na D.B. Brinquedos do Shopping Miramar, em Santos, e comprei uma caixa de Dragon Quest, um módulo fechado de Dungeons & Dragons. Quando eu tinha 16 anos, entrei numa aula de desenho para quadrinhos, onde os amigos que fiz, professores os colegas, pertenciam a uma tribo de párias altamente diferenciada. E aí eu entendi que isso tinha nome.


Nerd é como muita gente chama pessoas que não sabem falar de outro assunto, ou que são socialmente desajustadas (porque a pessoa não consegue sair daquele assunto). Pessoas que tem uma paixão extrema por algo que é difícil de gostar. Ou que requer muito esforço para gostar. Tem gente que aprende élfico, e isso é difícil. Pessoas que, na opinião regular considerada normal para “todo mundo”, tem um senso de ridículo mal calibrado.

Mas na verdade, como diz o Will Wheaton, Nerd não é sobre o que você gosta. É sobre como você gosta. De maneira que é de um preconceito seletivo extremo nós termos um nome pejorativo para as pessoas que são fanáticas por Doctor Who e Animes, e não para pessoas que são fanáticas por carros, futebol ou ornitologia.  É como se vivêssemos sob uma sutil inquisição espanhola. E ninguém espera a inquisição espanhola.


Nós temos paixão por histórias, fantasia e ficção. E eu imagino que muita gente pode enxergar nisso uma fraqueza, porque somos um povo que curte “escapismo”. E não posso negar, uma quantidade imensa de nerds curtem o escapismo. Curtem fugir do bullying para lugares diferentes, onde vivem vidas alternativas. Mas há muitos também que voltam para o mundo real mudados. Porque “escapismo” não ensina. E muitos de nós não queremos ser o Superman porque ele voa, mas porque ele resgata pessoas. Nós queremos ser o Luke Skywalker porque ele destruiu o mal que assombrava a Galáxia. Não queremos salvar só a princesa, porque ela é gostosa. Queremos salvar o reino inteiro.

E quando não é uma percepção sobre moralismo, nossa paixão nos ensina algo sobre nós mesmos. Sobre as pessoas à volta. Nerds podem não saber se comunicar muito bem, mas ali, embaixo da esquisitice e das gírias, das piadas que só eles entendem, existem pessoas sábias que entendem o que é “sacrifício” e o que é “mal” melhor do que ninguém. Pessoas de riso fácil, que acham que o sentido da vida é um número, e que conseguem ver um ponto de luz no meio de confusão.

É muito fácil encontrar um nerd que tenha problemas para se expressar, mas é difícil encontrar nerds que sejam pessoas ranzinzas, que não queiram se juntar para resolver o problema. Os grandes cientistas da história, todos, são nerds em algum ponto. Tem um ardor extremo por algo específico, e se deixam definir por aquilo. Cientistas, os físicos, antropologistas, historiadores, matemáticos, ouso até dizer teólogos e sociólogos, pessoas que mergulham loucamente em seus campos de conhecimento que se tornam sinônimos daquilo que estudam.

Nerd não significa “Star Trek”. Nerd significa “Paixão”, mas uma paixão a ponto de fazer você aprender a falar klingon.

Star Wars, RPG e Desenho não são só passatempos. Eu sou um publicitário, um ilustrador, um escritor, um cineasta (dá até pra dizer que sou um radialista), tudo isso por causa de como a minha formação na infância me levou a amar a cultura pop. Star Wars, Star Trek, Tolkien, C.S. Lewis, G.R.R. Martin, Asimov, Neil Gaiman, Pratchett, Mitologia, Ficção Científica em geral.

Além disso sou cristão, seguidor de Jesus Cristo, crente que Deus é Deus, e que Ele é Quem Ele diz Ser.
Essas são as minhas paixões. Por mais que pareça existir contradições, isso tudo faz sentido pra mim. Muito sentido.

Então aceitem o conselho de uma das epítomes do paradoxo:

Vista sua paixão. Como se fosse uma armadura. Quem importa não vai ligar, quem ligar não importa.
E que sua paixão faça do mundo um lugar melhor.


Porque um dia vou ter filhos. E eles vão ter nomes de super-heróis. 

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