sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Acordar num mundo onde não exista Clive Staple Lewis



Não consigo imaginar o que sentiria se fosse eu, como sou, a acordar na manhã de 23 de novembro de 1963.

Não havendo Internet, só receberia a notícia no dia seguinte. E precisaria procurar bastante para encontrá-la, dado que estaria perdida no meio de mais de quarenta mil e quinhentas notas sobre a morte do presidente americano John Kennedy, também no dia anterior.

Ou acharia a nota do lado da nota de falecimento de outro grande nome da cultura do século XX, escritor que calhou de falecer no mesmo dia, Aldous Huxley.

Mas qual seria o sentimento meu ao acordar num mundo onde C. S. Lewis não era mais?

Lewis queria ser poeta. Queria escrever sobre o épico, o belo e o humano. Lewis era um nerd, gastava mais tempo no vício que era sua imaginação, pesquisando mitologia, mito, história e linguística do que outras coisas.

Lewis era brigão. Quando sua mãe foi levada pelo câncer, ergueu o punho ao céu e proibiu Deus de existir.

Lewis andou na racionalidade, com os próprios caprichos o impedindo de notar a beleza da vida. Na sua insistência, o Lewis que era ateu brigou até esgotar as forças. O Lewis que era amigo ouviu o parceiro nerd, John Tolkien, dizendo que o "mito" de Jesus era magnífico.

Magnífico demais para não ser fato. E o Lewis que era soberbo caiu num Lewis que tinha saudade.

Clive Staple Lewis tinha um escudo, sua fé. E tinha uma espada, sua lógica. E diferente dos adolescentes que vêem nisso um impasse natural, Lewis viu passos de uma dança que durou toda sua carreira.

Você já dançou com Lewis. Você já observou a lógica e a fé se encontrarem dentro de si, e você já sentiu a tentação de achar que isso era uma luta até a morte. Lewis fez disso sua poesia. Viu que sem Deus não há pensamento, e que sem pensamento, não há como ver Deus.

Escreveu sobre a vida eterna enquanto escrevia sobre a morte terrena. Escreveu sobre alienígenas inocentes enquanto escrevia sobre seres humanos ferozes. Escreveu sobre como o mais fraco dos homens se torna a mais poderosa torre de força. Escreveu sobre como riem os demônios do homem que se vê como o topo da cadeia alimentar. Aplaudia o amor, todos os quatro. Crucificava o orgulho junto com a luxúria e o vício.

Falou de planetas que não tinham nada a dizer. Falou sobre a própria dor quando o câncer lhe tirou mais alguém querido. Nos contou sobre correios sinistros. Constatou que o homem já não era mais escravo. Nos fez enfrentar o maior problema da vida de cabeça erguida. Foi convidado pela BBC de Londres a falar ao povo da cidade sobre esperança nos momentos em que ninguém sabia onde a próxima bomba do Füher cairia.

E fez tudo isso sem perder a calma, a eloquência, o bom humor e a paixão pela verdade, pelas palavras, e pela Palavra.

Lewis pensou que um dia, um Leão cantou o Universo numa canção. E assim se fez a existência.

E em 22 de novembro de 1963, a existência se despediu dele.

Para ele, a fé não ignorava a lógica, e a lógica não anulava a fé. O amor unia as duas.

E juntas, elas rugem.

Acho que o sentimento ia ser indescritível, mas tentando com muito afinco, descreveria como "tristeza".

É ter paciência para encontrá-lo um dia, num lugar onde o rosto dele e o meu serão outros.