terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Em 2013



Com vocês, a anual e espirituosa retrospectiva dos fatos.

Foi um ano longo. Em 2013:

• Obamão tomou posse novamente.

• Um incêndio numa boate no sul do Brasil acabou com a vida de 242 pessoas. Um incêndio numa boate no sul do Brasil devolveu à nação a preocupação com saídas de emergência.

• A Coréia do Norte, sempre eles, fizeram mais alguns testes nucleares, deixando todos preocupados. Menos os coreanos, que conhecem bem de perto o cão que ladra e não morde.

• José Sarney termina seu mandato como presidente do Senado. No lugar dele entra alguém que deixaria a situação muito cabeluda.



• Um meteoro sobrevoou os céus da Rússia e explodiu antes de colidir com o chão. Porque ele era esperto e sabia muito bem onde não se meter.

• Torcedores de um time do estado de São Paulo assassinam um torcedor boliviano com explosivos recreativos.

• O Papa Bento XVI fez uma coisa que ninguém sabia que ele podia fazer e abdicou do trono de Pedro. Se ele saísse voando teria sido menos estranho.

• O Cardeal Jorge Mario Bergoglio é eleito Papa, nomenado-se Francisco. Começa muito cedo a ganhar muitos fãs.

• As Águas de Março matam muita gente no Sudeste do Brasil. Igual ao ano anterior.

• A Coréia do Norte, sempre eles, ameaçam todo mundo. Não leram as instruções do War.



• Dois irmãos chechenos supostamente explodem uma bomba durante uma maratona em Boston. Os Conspirólogos Pira.

• O Reino Unido cantou que "A Bruxa Está Morta".

• Ocupando o largo espaço vago, um presidente novo é eleito na Venezuela. Tentaram a reeleição, mas acontece que Hugo Chávez não conseguia mais ficar de pé.

• Chris Hadfield, astronauta e artista Pop, se despede de sua estadia na estação espacial da maneira mais incrível possível.



• Terremotos e enchentes terríveis levam pessoas da China e da Índia.

• O maior colapso sem relação com terrorismo de um prédio da história acontece em Bangladesh, onde mais de mil pessoas nos deixaram.

• Edward Snowden, cientista de computação previamente a serviço da CIA e da NSA revela ao mundo que os EUA espiam todo mundo sem avisar.

• O Mundo finge surpresa com as declarações de Snowden.

• É anunciado o aumento das passagens de ônibus em vários lugares do Brasil.

• O Povo Brasileiro decide fazer alguma coisa contra sua própria apatia, finalmente.



• Alan Moore não cobrou direitos autorais.

• Um Golpe de Estado derruba o então presidente do Egito. Mais violência.

• Amarildo desaparece. Ninguém sabe como, e pior, o porquê.

• Nasce o bebê real.

• O Papa Francisco vem para o Brasil e até eu viro fâ dele.

• O Papa Francisco se arrisca ao aproximar-se dos agentes das trevas.



• O Brasil continua "imaginando na Copa".

• O Presidente Sírio supostamente ataca seu próprio povo com gás.

• Os rebeldes Sírios são declarados "não é flor que se cheire".

• O Mundo continuou aprendendo com Malala.

• A Sony anuncia o preço do PS4 no Brasil. Muita gente não acredita.

• O Brasil acompanha Joaquim Barbosa, o juiz que não se senta, torcendo.

• O mundo acompanhou o fim da saga-espiral de Walter Hartwell White.



• Militantes islâmicos atacam um shopping no Quênia.

• O Rock'n Rio teve um show BEM LEGAL.



• Dilma chama atenção de Obama. Obama ignora.

• O governo americano aperta o botão de desligar até que a crise econômica interna se resolva.

• Pela primeira vez memorável desde Pedro A. Cabral, navegador, o Brasil vê políticos criminosos atrás das grades.

• Uma cidade nos EUA parou para deixar um garotinho com uma doença terminal viver um dia combatendo o crime vestido de Batman.

• Obama, em gesto histórico, aperta a mão do presidente de Cuba. Mas todo mundo só comenta de como sua esposa fez bico.



• Um certo Presidente do Senado, já mencionado, deixou a situação mais cabeluda.

Neste ano perdemos Walmor Chagas, Hugo Chávez, o Chorão, Emílio Santiago, Roger Ebert, Carmine Infantino, Margaret Thatcher, Robert Edwards, Ray Harryhausen, James Gandolfini, Cory Monteith, Dennis Farina, Dominguinhos, Luiz Paulo Horta, David Frost, o Champignon, Luiz Gushiken, Tom Clancy, Marcia Wallace, Lou Reed, Renato Canini, Paul Walker, Peter O'Toole, Mikhail Kalashnikov e Nelson Mandela.



E o Sarney ainda tá aí.

Amanhã é 2014. Acorde melhor do que ontem, humanidade.

Deus abençoe você e você e você.

(as imagens pertencem a seus respectivos donos)

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Acordar num mundo onde não exista Clive Staple Lewis



Não consigo imaginar o que sentiria se fosse eu, como sou, a acordar na manhã de 23 de novembro de 1963.

Não havendo Internet, só receberia a notícia no dia seguinte. E precisaria procurar bastante para encontrá-la, dado que estaria perdida no meio de mais de quarenta mil e quinhentas notas sobre a morte do presidente americano John Kennedy, também no dia anterior.

Ou acharia a nota do lado da nota de falecimento de outro grande nome da cultura do século XX, escritor que calhou de falecer no mesmo dia, Aldous Huxley.

Mas qual seria o sentimento meu ao acordar num mundo onde C. S. Lewis não era mais?

Lewis queria ser poeta. Queria escrever sobre o épico, o belo e o humano. Lewis era um nerd, gastava mais tempo no vício que era sua imaginação, pesquisando mitologia, mito, história e linguística do que outras coisas.

Lewis era brigão. Quando sua mãe foi levada pelo câncer, ergueu o punho ao céu e proibiu Deus de existir.

Lewis andou na racionalidade, com os próprios caprichos o impedindo de notar a beleza da vida. Na sua insistência, o Lewis que era ateu brigou até esgotar as forças. O Lewis que era amigo ouviu o parceiro nerd, John Tolkien, dizendo que o "mito" de Jesus era magnífico.

Magnífico demais para não ser fato. E o Lewis que era soberbo caiu num Lewis que tinha saudade.

Clive Staple Lewis tinha um escudo, sua fé. E tinha uma espada, sua lógica. E diferente dos adolescentes que vêem nisso um impasse natural, Lewis viu passos de uma dança que durou toda sua carreira.

Você já dançou com Lewis. Você já observou a lógica e a fé se encontrarem dentro de si, e você já sentiu a tentação de achar que isso era uma luta até a morte. Lewis fez disso sua poesia. Viu que sem Deus não há pensamento, e que sem pensamento, não há como ver Deus.

Escreveu sobre a vida eterna enquanto escrevia sobre a morte terrena. Escreveu sobre alienígenas inocentes enquanto escrevia sobre seres humanos ferozes. Escreveu sobre como o mais fraco dos homens se torna a mais poderosa torre de força. Escreveu sobre como riem os demônios do homem que se vê como o topo da cadeia alimentar. Aplaudia o amor, todos os quatro. Crucificava o orgulho junto com a luxúria e o vício.

Falou de planetas que não tinham nada a dizer. Falou sobre a própria dor quando o câncer lhe tirou mais alguém querido. Nos contou sobre correios sinistros. Constatou que o homem já não era mais escravo. Nos fez enfrentar o maior problema da vida de cabeça erguida. Foi convidado pela BBC de Londres a falar ao povo da cidade sobre esperança nos momentos em que ninguém sabia onde a próxima bomba do Füher cairia.

E fez tudo isso sem perder a calma, a eloquência, o bom humor e a paixão pela verdade, pelas palavras, e pela Palavra.

Lewis pensou que um dia, um Leão cantou o Universo numa canção. E assim se fez a existência.

E em 22 de novembro de 1963, a existência se despediu dele.

Para ele, a fé não ignorava a lógica, e a lógica não anulava a fé. O amor unia as duas.

E juntas, elas rugem.

Acho que o sentimento ia ser indescritível, mas tentando com muito afinco, descreveria como "tristeza".

É ter paciência para encontrá-lo um dia, num lugar onde o rosto dele e o meu serão outros.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Como derrotar Sherlock Holmes



Faz um tempo que eu vi um filme muito interessante, FROST/NIXON, de Ron Howard. Em 1977, o ex-presidente americano Richard Nixon aceitou dar uma entrevista ao media-man David Frost, entrevista essa na qual Frost tentaria explorar cada detalhe da corrupção de seu governo que havia acabado três anos antes, no único impeachment da história estadunidense. Era um duelo entre os dois, onde Frost tentou, e finalmente conseguiu, fazer com que Nixon admitisse os erros legais e éticos de seu mandato.

É engraçado ver certas diferenças entre certos personagens históricos. Nixon era corrupto, manipulando órgãos do poder para satisfazer seus objetivos. Sempre “pareceu estar com boas intenções”. “Manter-se no poder” é uma ótima intenção. E apesar de manter a cabeça erguida, o orgulho intacto e vociferar o papel de vítima durante seu impeachment, não segurou essa marra para sempre. O “Time Frost”, no filme, conta com um apaixonado ajudante interpretado por Sam Rockwell. Enquanto David Frost está nessa empreitada pela fama de “desmascarar um ‘crook’”, o personagem de Rockwell quer, no mínimo, “um pedido de desculpas”. E até o final do filme ele consegue isso: que Nixon pelo menos olhe para seu passado e admita que errou, que fez feio, que não é confiável, que erra e que é legitima a sua punição.

Não sei ao certo o quanto do filme é fato, mas pelo menos o personagem de Nixon do filme demonstrou um pouquinho de honra e hombridade, ao final do exaustivo debate, ao admitir seus pecados. Lembrando, Jesus Cristo começou seu ministério com a palavra “ARREPENDEI-VOS”.

Confesso que imediatamente me vi comparando a trajetória do filme não só à política brasileira, mas ao estilo brasileiro de tratar “críticas”. Aparentemente, a honra dos nossos líderes (e por consequência, do nosso povo) está mais ligada a “permanecer imbatível” do que a “admitir furos”. Não imagino nenhum líder recente da história brasileira admitindo atos de corrupção, nem mesmo frente à provas.


Recentemente assisti a espetacular minissérie britânica SHERLOCK, que reconta os contos de Sir Arthur Conan Doyle como se Sherlock Holmes, John Watson, James Moriarty, Mycroft e Lestrade fossem todos contemporâneos nossos, usuários de blogs, SMS, Wikipedia, computação avançada e sarcasmo extremo. E a arma de Sherlock, quando encontra um desafio, não é sua dedução sobrenatural, com a qual extrai detalhes reveladores sobre qualquer assunto, de qualquer pessoa. A arma é a verdade que ele percebe com a dedução, e é a verdade que usa contra seus algozes, que afrontados com os argumentos invencíveis dos fatos, admitem a derrota.

É engraçado que nenhum dos malfeitores de Sherlock Holmes negue os fatos. Confrontados com a verdade, não vêem saída a não ser cooperar. É engraçado que eu jamais vi isso no meu país.

Outro presidente americano, menos corrupto, mas não exatamente “menos ético”, ficou famoso também por negar e negar frente à evidências que ‘mancharam’ sua moral. Então não posso dizer que esse é um fenômeno da política exclusiva brasileira. Mas só de imaginar alguns líderes nossos, discutivelmente mais mentecaptos e historicamente pouco honestos, ali, frente à frente com David Frost, ou uma versão brasileira (Vamos pensar em um Davi Geladinho, por motivos puramente cômicos), o resultado não mudaria nunca.

Davi Geladinho inicia a entrevista com alguma anedota referente à história pessoal, alguma dificuldade notável na vida do entrevistado ex-líder da Nação, que é recebida com nostalgia e sorrisos. E no meio da narrativa de “como foi sobreviver àquela época terrível”, Geladinho estoca uma pergunta fulminante, indo direto ao ponto: aquele fato temeroso, muito pior do que ações que, em países sérios, teriam deposto um guarda de trânsito, realmente aconteceu? Você, o centro do poder, cabeça sobre inúmeros pescoços, permitiu, ordenou, arquitetou, executou tamanha falcatrua?

Gritos, berros, fúria. Ousaram questionar a estátua de moral que é o líder. É intriga, é invenção, é mentira, mentira, mentira. Como ousam. Eu vou embora. Essa entrevista acabou. E você, você vai pagar por isso, Davi. Não se tenta contra os deuses sem pagar um preço caro.

Já viu acontecer?

Sherlock Holmes não funcionaria aqui. Seu camarada, o oficial da polícia londrina/Interpol Lestrade seria o primeiro a segurá-lo dizendo “as coisas são assim” e “não adianta insistir”. “It’s Chinatown”, poderia até dizer.

It’s Brazil”. É um país onde o vilão do filme ensina políticos eleitos democraticamente sobre honra e dever.

Então, país, continue com o ensino atual sobre o que é honra, o que é verdade, o que é sucesso, o que é ambição, o que é status quo, e o quem seus filhos precisarão matar para continuar nesse status quo. Nossos líderes monstros são obra da nossa sociedade, da nossa cultura.

É elementar.