segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Tomar. No Cult.

Sabe, eu gosto de cinema. E de livros. E de quadrinhos e games também, mas eles não vão ser assunto agora por preconceito.

É uma coisa lá de dentro. Se alguém começa a conversar sobre cinema, sobre livros, (quadrinhos, games), eu quero participar da conversa. E normalmente é uma conversa agradável, com todo mundo trazendo cores novas à discussão, abrindo os olhos além do permitido e balançando a cabeça com alguma anedota nova, com aquele “Hmmmm, é mesmo?”. E normalmente isso tem níveis. A conversa sobre cinema que eu tenho com um cara que “adorou Transformers” é um pouco diferente da que eu tenho com as pessoas que “idolatram Chaplin”. E o mesmo vai com livros. (E com quadrinhos, e... chega vai). Mas não tenho problema nenhum. Vou falar com os dois do mesmo jeito. Simples. Tem até o pessoal que sabe falar tanto de Transformers como de Chaplin.

Mas eu quero falar sobre o pessoal com o qual eu só posso exclusivamente mencionar nomes que são vanguardas artísticas. Truffaut. Dostoiévsky. Hitchcock. Woolfe. Tarantino. Kurosawa. Mussum e Zacarias.

Não sei se é por eu ter morado a vida toda em Santos que eu nunca tive tanto contato com o que chamam de Cult. Tinha lá o CineArte Posto 4, que eu só fui uma vez para ver um filme italiano chato, mas nem se compara com São Paulo, que se você tropeçar e cair num buraco em alguns bairros, vai acabar na platéia de um teatro. Ou no palco de outro tipo de casa de entretenimento. Aqui, com um monte de exposições de arte, AnimaMundis, teatros, apresentações musicais de graça, incentivos grotescos à cultura, eles se proliferam. Tente andar na Avenida Paulista e NÃO encontrar uma pessoa que parece ter saído do Cine Gazeta e está a caminho de postar algo em seu blog sobre esse filme “di-vi-no” de um diretor de nome insoletrável. Ou está saindo de um show do Los Hermanos. Ah, eu mesmo já fiz exatamente isso. (não do show do Los Hermanos).

O problema não é isso. O problema é que algumas pessoas são incapazes de nivelar a si mesmos. Em qualquer conversa, qualquer bar, qualquer encontro, ficam bancando a Wikipedia. Ficam falando e falando sobre um monte de coisas profundas, diferentes, longínquas, inesperadas, que honestamente não fazem a menor diferença.

Eu já fui assim. Eu guardo informações inúteis com uma facilidade tão gargantual que eu virei consultor de “que filme veremos hoje a noite”. Nomes de atores, diretores, sinopse. “Tem um filme muito bom, mas é melhor assistir outro porque todo mundo vai acabar gostando mais”. É um dom, uma maldição. E eu sempre queria mostrar como eu sabia o nome do diretor, produtor, técnico de efeitos visuiais, supervisor musical, compositor... Pra que? Pra nada.

Todo mundo tem um lado “mais popular”. Negar isso é se tornar chato ao extremo. E tem muito cult que faz exatamente isso. Povoa os CineArtes da cidade como mariposas (mas uma mariposa do tipo que aparece no Silêncio dos Inocentes, hein! Pomposa, com caveira nas costas...), não admitem que um dia pensaram que Truffaut não era nada mais do que um doce, e ficam espalhando essa doença de ser “mais inteligente” por ter lido mais livros de autores comunistas pedófilos do leste europeu exilados nas Filipinas.

Admita que você não é mais do que você é. Admita que você gosta pra caramba de um filme ridículo. Todo mundo gosta. Eu gosto de Mortal Kombat, com o Christopher Lambert. Esse mesmo, tosco além da conta. A arte também diverte, você sabia?
E é melhor eu tomar cuidado. Quadrinhos e games estão prestes a se tornarem itens requisitado entre os cults...

(esse texto é dedicado à Milena, que me inspirou a escrever. Não, ela não me inspirou no sentido "Essa Milena deve ser uma cult chata pra caramba")

4 comentários:

Milena disse...

Voila!!
Digo e repito: a merda os intelectualóides que gostam de filme francês. Tirando Amelie Poulain claro...

Milena disse...

Ahhh claro.....texto irado Silas! você é o cara!!! Ainda to chocado como você escreveu em questão de minutos...máquina de fazer crônicas! Há!

Grilo disse...

Excelente texto, mas acho que isso também serve pra alguns nerds. Aliás, pra qualquer um que fale sobre uma coisa só por muito tempo. Sentir que um papo pode ser rotulado de "papo nerd" não é muito divertido: acho q tudo, de Truffaut (que pra mim ainda só é digerível com recheio de amarula) a Final Fantasy, deveria ser de acessível, divertido e de fácil entendimento pra todo mundo. Ou seja: popular.

Pedro "Loner" Schor disse...

Tudo bem você manjar de alguma coisa, que bom, aliás. É legal trocar uma idéia com alguém que sabe do que está falando, ou buscar uma opinião ou conselho confiável de alguém que você sabe que tem fundamento... mas não precisa ser chato.
As pessoas tem uma tendência a confundir sapiência com monotonia...