Eu tinha uns 8 ou 9 anos e o meu pai comprou, junto com um novo aparelho de
vídeo cassete, três fitas VHS contendo a trilogia original de Star Wars. Elas
eram verdes, e começavam com uma entrevista chatíssima do Leonard Maltin com o
George Lucas. Foi com essas fitas que eu genuinamente me surpreendi quando descobri
quem era o pai de Luke. Quando eu tinha 13 anos, ganhei 50 reais de presente de
aniversário, então imediatamente fui na D.B. Brinquedos do Shopping Miramar, em
Santos, e comprei uma caixa de Dragon Quest, um módulo fechado de Dungeons
& Dragons. Quando eu tinha 16 anos, entrei numa aula de desenho para
quadrinhos, onde os amigos que fiz, professores os colegas, pertenciam a uma
tribo de párias altamente diferenciada. E aí eu entendi que isso tinha nome.
Nerd é como muita gente chama pessoas que não sabem falar de
outro assunto, ou que são socialmente desajustadas (porque a pessoa não consegue
sair daquele assunto). Pessoas que tem uma paixão extrema por algo que é
difícil de gostar. Ou que requer muito esforço para gostar. Tem gente que
aprende élfico, e isso é difícil. Pessoas que, na opinião regular considerada
normal para “todo mundo”, tem um senso de ridículo mal calibrado.
Mas na verdade, como diz o Will Wheaton, Nerd não é sobre o
que você gosta. É sobre como você gosta. De maneira que é de um preconceito
seletivo extremo nós termos um nome pejorativo para as pessoas que são fanáticas
por Doctor Who e Animes, e não para pessoas que são fanáticas por carros,
futebol ou ornitologia. É como se vivêssemos
sob uma sutil inquisição espanhola. E ninguém espera a inquisição espanhola.
Nós temos paixão por histórias, fantasia e ficção. E eu
imagino que muita gente pode enxergar nisso uma fraqueza, porque somos um povo
que curte “escapismo”. E não posso negar, uma quantidade imensa de nerds curtem
o escapismo. Curtem fugir do bullying para lugares diferentes, onde vivem vidas
alternativas. Mas há muitos também que voltam para o mundo real mudados. Porque
“escapismo” não ensina. E muitos de nós não queremos ser o Superman porque ele
voa, mas porque ele resgata pessoas. Nós queremos ser o Luke Skywalker porque
ele destruiu o mal que assombrava a Galáxia. Não queremos salvar só a princesa,
porque ela é gostosa. Queremos salvar o reino inteiro.
E quando não é uma percepção sobre moralismo, nossa paixão
nos ensina algo sobre nós mesmos. Sobre as pessoas à volta. Nerds podem não
saber se comunicar muito bem, mas ali, embaixo da esquisitice e das gírias, das
piadas que só eles entendem, existem pessoas sábias que entendem o que é “sacrifício”
e o que é “mal” melhor do que ninguém. Pessoas de riso fácil, que acham que o
sentido da vida é um número, e que conseguem ver um ponto de luz no meio de
confusão.
É muito fácil encontrar um nerd que tenha problemas para se
expressar, mas é difícil encontrar nerds que sejam pessoas ranzinzas, que não
queiram se juntar para resolver o problema. Os grandes cientistas da história,
todos, são nerds em algum ponto. Tem um ardor extremo por algo específico, e se
deixam definir por aquilo. Cientistas, os físicos, antropologistas,
historiadores, matemáticos, ouso até dizer teólogos e sociólogos, pessoas que
mergulham loucamente em seus campos de conhecimento que se tornam sinônimos
daquilo que estudam.
Nerd não significa “Star Trek”. Nerd significa “Paixão”, mas
uma paixão a ponto de fazer você aprender a falar klingon.
Star Wars, RPG e Desenho não são só passatempos. Eu sou um
publicitário, um ilustrador, um escritor, um cineasta (dá até pra dizer que sou
um radialista), tudo isso por causa de como a minha formação na infância me
levou a amar a cultura pop. Star Wars, Star Trek, Tolkien, C.S. Lewis, G.R.R.
Martin, Asimov, Neil Gaiman, Pratchett, Mitologia, Ficção Científica em geral.
Além disso sou cristão, seguidor de Jesus Cristo, crente que
Deus é Deus, e que Ele é Quem Ele diz Ser.
Essas são as minhas paixões. Por mais que pareça existir
contradições, isso tudo faz sentido pra mim. Muito sentido.
Então aceitem o conselho de uma das epítomes do paradoxo:
Vista sua paixão. Como se fosse uma armadura. Quem importa
não vai ligar, quem ligar não importa.
E que sua paixão faça do mundo um lugar melhor.
Porque um dia vou ter filhos. E eles vão ter nomes de
super-heróis.
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